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05 de Março de 2021
Primeira policial feminina em Monlevade conta trajetória e desafios
Divulgação
Luciana e sua mãe, Maria Custódia, em evento da Polícia Militar

Na próxima segunda-feira (8), comemora-se o Dia Internacional da Mulher e, para marcar a data, A Notícia relembra que, em 2021, completam-se 40 anos da admissão das primeiras mulheres ao corpo da Polícia Militar de Minas Gerais. A corporação, criada em 1775, começou a recrutar militares femininas em 1981. Em João Monlevade, a primeira mulher a vestir a farda cáqui foi a então soldado Luciana Maria Freitas, em 1997. Ela conversou com o A Notícia sobre a sua trajetória de 25 anos no serviço ativo da PM. 
Monlevadense, criada no bairro Areia Preta, Luciana terminou os estudos em 1995, aos 21 anos. O pai não queria que ela trabalhasse no comércio, mas ofereceu-lhe a possibilidade de ingressar na Polícia Militar. Durante os nove meses de intenso treinamento em Betim, ela chegou a telefonar para o pai para contar a desgastante preparação que enfrentava. No entanto, a então soldado Luciana já havia percebido que o serviço policial havia se tornado uma paixão. A policial relembra a sua primeira atuação, ainda servindo em Betim: “Estava voltando para casa de ônibus, e vi que um homem estava perturbando o sossego dos passageiros. Ali, eu entrei em ação. Ser militar está no meu sangue, é um amor indescritível”. 
Após dois anos no 33º Batalhão, Luciana transfere-se em 1997 para a então 86ª Companhia da Polícia Militar, sediada em João Monlevade. Ela encontrou alguma resistência dos companheiros de farda, que jamais haviam trabalhado com uma mulher ao seu lado. Ao mesmo tempo, no entanto, recebeu o carinho da comunidade: “Eu me sentia uma Xuxa. As pessoas me olhavam, queriam tirar fotos”. A militar até recebeu as chaves da cidade em uma cerimônia de homenagem. 
Após alguns anos servindo em João Monlevade, Luciana foi novamente transferida para a Grande Belo Horizonte, onde serviu por um largo período no 48º Batalhão, em Ibirité. Depois, trabalhou no setor administrativo da corporação: “Fiquei lá por seis meses e quase fiquei doente!”, conta entre risos. “Gosto mesmo é do trabalho na rua, de estar em contato com a comunidade”, contou. Por fim, ela prestou serviço no 41º Batalhão, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, onde serviu até março de 2020, quando, com a patente de segundo sargento, foi reformada e passou a cuidar de seu pai, que faleceu no último mês de outubro. 

Histórias

Sua trajetória não foi livre de perigos. Em certa ocasião, após prender o maior traficante de um aglomerado da capital, Luciana recebeu ameaças de morte: “Moradores ligavam para o 181 (disque-denúncia unificado) para informar que os marginais da área estavam planejando matar-me”. Sobretudo, ela sabia que o risco do trabalho militar a acompanhavam a cada passo que ela desse: “O bandido não quer saber se você está de folga, desarmado ou vulnerável”. 
Algumas ocorrências marcaram os 25 anos de atuação da sargento Luciana Freitas. Em Belo Horizonte, numa manhã de sexta-feira, ela recebe um chamado que indicava que um cadáver fora encontrado partido sobre uma linha férrea. Ao chegar ao local, percebe que a vítima ainda está respirando. O helicóptero Arcanjo é chamado e o leva ao hospital. A recuperação é longa e lenta, e ela recebe vários telefonemas falando sobre as crises de abstinência do rapaz. Milagrosamente, ele hoje está muito vivo, recuperado, casado e é pregador em uma igreja evangélica. “O trabalho não termina quando a ocorrência é fechada” é uma frase enfatizada pela segundo sargento. Para Luciana, “a Polícia Militar é o braço mais forte do Estado”, e precisa ser o local que ampare o cidadão sempre que ele necessitar: “Quando alguém precisa, é ao 190 que recorre”. Para ela, o militar não deve ser apenas um funcionário burocrático, mas um amparo ao cidadão: “Por exemplo, quando uma mulher é vítima de violência doméstica, ela precisa de um ombro amigo, de alguém que a ouça e a acolha”. 
Durante sua carreira, a monlevadense fez inúmeras incursões em aglomerados, o que a levou a manter um estreito relacionamento com as iniciativas sociais que atuam nestas comunidades. Nesta caminhada, ela recebeu o prêmio Heróis de Fibra, concedido pela fabricante de produtos balísticos DuPont. Ela própria explica a importância deste trabalho: “Na favela, o menino muitas vezes tem o traficante como herói. É o bandido quem tem as mulheres mais bonitas, as motos mais caras, que tem fartura de alimentos. O policial, muitas vezes, é visto como malvado e truculento. É preciso mudar essa visão”. 
Já reformada, Luciana Freitas mantém a admiração e o respeito pela corporação à qual devotou 25 anos de sua vida: “Não teria escolhido outra profissão. Amo a Polícia Militar. Aprendi demais”. Segundo ela, hoje os agentes são mais heróis que em 1995. Para as “valorosas meninas”, como chama as suas companheiras de farda, ela deixa um conselho: “Tenham dedicação ao que vocês fazem. Quando um policial ama e se empenha no que faz, logo é percebido”. Luciana, que atualmente reside na capital mineira, pretende regressar a João Monlevade ainda em 2021. 

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