Desde 1984
Elizeu Assis
01 de Julho de 2022
Sem Tarifa Zero, transporte monlevadense entrará em colapso

Novamente, João Monlevade está às voltas com as questões do transporte público coletivo. Desde julho de 2021 que o Movimento Monlevade Sem Catracas vem atazanando para a necessidade de se efetivar o direito social ao transporte, prescrito no Artigo 6º da Constituição Federal de 1988, bem como para a urgência de se alterar a lógica de remuneração do sistema. 

A título de ilustração, na última semana o diretor da Enscon Viação Ltda, Eduardo Lara, se prenunciou sobre as dificuldades que a concessionária está passando para manter suas atividades, por isso demanda “novas metodologias para cobrir os custos”. Isso evidencia que a Tarifa não é suficiente para custear os serviços. Não bastasse isso, na audiência pública realizada na Câmara Municipal em abril de 2022, o engenheiro Ricardo Medanha, da consultoria da Cidade Viva Engenheiros e Arquitetos Associados, demonstrou que o transporte coletivo monlevadense possui a maior remuneração do Estado de Minas Gerais, com Índice de Passageiros Por Quilômetro (IPK) calculado em 1,77, mesmo assim é deficitário em densidade tecnológica.

Em verdade, o que permanece latente em tudo isso é que a Administração Municipal ainda não conseguiu publicar o edital para a nova licitação do transporte e, forçosamente, terá que aditar o contrato da atual concessionária. Imprescindível perguntar: autorizarão os vereadores a aberração de corrigir do valor do subsídio por mais um mês ou o farão para além do término do contrato?

Apesar dos esforços do prefeito de Monlevade Dr. Laércio Ribeiro (PT) em buscar soluções para o quebra-cabeça do transporte público, as decisões até então tomadas, não produziram os efeitos esperados. A Administração demorar-se em medidas paliativas e não soluciona o enigma, pois este é estrutural. Está evidente que os esforços precisam ser empreendidos na modificação do modelo, substituindo-se o Modelo de Remuneração Tarifada pelo Modelo de Fretado – preferencialmente com Tarifa Zero – aí sim, o serviço será mais profícuo para a concessionária e mais atrativo os usuários.  

Ainda na mesma linha das soluções paliativas, o vice-prefeito Fabrício Lopes (Avante) intentou relevar afirmando que “a questão não é específica de João Monlevade” [...] “Cidades de todos os cantos do país estão com dificuldades no transporte público. Belo Horizonte e Itabira também estão enfrentando esse problema”. Essa queixa desconsidera que as cidades que optaram por Tarifa Zero, como Mariana, Caeté, Bela Vista de Minas, Ouro Branco e muitas outras, superaram a questão, destarte, não seria mais plausível compreender o que está dando certo ao invés justificar a própria inercia diante do problema nas inconveniências alheias?

A persistência dos nossos dirigentes políticos em buscar apoio legislativo para outorgar mais subsídio, faz com que o município permaneça, como “cachorro louco que gira em redor do rabo”. Tudo isso ficou inequívoco com os resultados apresentados pela consultoria da Cidade Viva Engenheiros que comprovou a conveniência e exequibilidade do Tarifa Zero. Além de oportuno para a Administração Municipal o Tarifa Zero é vantajoso para os usuários, rentável para a concessionária e auspicioso para o comércio local e condição “sine qua non” para se evitar o colapso do Transporte Coletivo.

Enfim, ao analisarem as informações sobre João Monlevade, os especialistas que contribuem com o Movimento Monlevade Sem Catracas recomendaram: que o município experimente, mesmo que provisoriamente, o modelo fretado com Tarifa Zero; que a Administração Municipal considere os benefícios que cada família terá com a adesão a essa política pública; que a Administração Municipal considere a importância de se ampliar o debate público de forma democrática e direta; que a Administração considere a possibilidade de abrir suas portas para que os cidadãos possam apresentar suas demandas, protagonizar a resolução de seus problemas e necessidades.  


(*) Elizeu Assis é doutor em História, mestre em Ciências, psicólogo e professor

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