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07 de Maio de 2021
Sapateiro monlevadense não para aos 90 anos
João Vitor Simão

“Meu trabalho é minha diversão, é minha oração”. Com essa frase, Manoel Pereira Neto (foto), morador de João Monlevade, define o que o motiva a continuar no trabalho, aos 90 anos. Ele permanece na ativa e dedicando-se ao mesmo ofício há décadas: a sapataria. “Sô” Manoel é um dos resistentes no ramo, e permanece trocando solas e reparando calçados na oficina que montou há mais de 30 anos no bairro Alvorada, em João Monlevade.
Nascido em 14 de março de 1931, em Dionísio, o senhor Manoel viveu uma fase em que a cidade abrigava várias pequenas fábricas de botinas para os operários da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (CSBM), que vivia momento de acelerada produção. Aos 23 anos, ainda na cidade natal, começou a fabricar os calçados, feitos a partir das tiras dos grandes pneus de máquinas e caminhões. Todo o trabalho era feito com facas afiadas e muita força e habilidade: “As nossas mãos ficavam com uma camada bem grossa de calos”, relembra.
Dois anos depois de começar a trabalhar com sapatos, ele veio para João Monlevade, onde montou uma pequena oficina. Produzindo cinco pares em um dia e deixando outros cinco já prontos para o dia seguinte, ele permaneceu na profissão até 1962, quando foi admitido na Belgo-Mineira e suspendeu o seu período como sapateiro. Trabalhou no setor de descarga e depois como manobreiro e maquinista dos trens da companhia. Após 30 anos de serviços, o senhor Manoel Neto aposentou-se e voltou ao antigo labor.
Após um “estágio” na sapataria de um amigo, ele voltou ao ofício, adaptando-se aos novos tempos. Naquelas três décadas, várias mudanças na moda dos calçados foram sentidas, com a popularização dos tênis e dos sapatos prontos: “Antigamente, usava-se palmilha de sola, e hoje a maioria dos calçados é feita com papelão. Por isso, não uso mais tachinhas”. Por conta disso, o senhor Manoel passou a trabalhar majoritariamente com reparos. Ao longo das últimas três décadas, ele conquistou uma ampla freguesia.
Desde que o senhor Manoel voltou ao ramo da sapataria, trabalho não faltou, embora tenha sofrido uma baixa com a pandemia. Mesmo aos 90 anos, ele permanece trabalhando e “cumprindo horário” na sua própria oficina, instalada no bairro Alvorada: “Às vezes, quando eu fico duas ou três horas sem serviço, sinto-me sem ambiente”. Como toda profissão, o sapateiro também tem suas particularidades: por exemplo, cerca de 20% dos fregueses não voltam para buscar os sapatos que levam para consertar.
Ele admite que a função que desempenha está em vias de acabar, mas não a encara como um fardo. Para o senhor Manoel, manter-se na ativa é uma forma de, aos 90 anos, conservar a mente tão ativa quanto aquela do jovem dionisiano de 23 anos: “Não fico à toa, não gosto de ficar por aí sem fazer nada”. Casado com a senhora Janete Santiago e pai de doze filhos, ele permanece atendendo na rua Lucindo Caldeira, 149, Alvorada. Seu telefone é o (31) 3852-2840. 

Divulgação
Sô Manoel segue firme no ofício aos 90 anos
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Sô Manoel segue firme no ofício aos 90 anos
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