Desde 1984
Mário Ananias
01 de Março de 2024
Quem é o bebezinho do meu coração?

- Nossa! Era hoje? Esqueci completamente. 
Quando se trata de cuidar, não há espaço para atitudes relapsas. É muito comum, e até natural, que os adultos demonstrem grande afeto pelas crianças. Claro, a espécie humana é absolutamente indefesa em seus primeiros anos de vida e depende de terceiros para sobreviver. A evolução da espécie, no entanto, promoveu um aumento significativo do cérebro, em tamanho e capacidade, a ponto de, em muitos casos, promover a falsa ideia de que se pode negligenciar o físico, o corpo, em prol do ócio. Dessa forma, muitas ações são relegadas a um baixo nível de importância como, por exemplo, empenhar-se na proteção desses vulneráveis contra males perfeitamente evitáveis.
Até a década de 1960, milhares de vidas foram ceifadas ou deformadas pela poliomielite. E com frequência, os sobreviventes, com suas sequelas, enfrentaram o preconceito, a violência, o cerceamento de seus direitos e oportunidades, a humilhação pela condição para a qual não contribuíram e, convictamente, não optaram.
Em fase de teste em 1953, e disposta aos públicos, americano em 1955 e mundial em 1957, pelo cientista novaiorquino Jonas Salk, o imunizante contra pólio apresentou resultados magníficos. 
Quando, a partir de 1960 outro imunizante, desenvolvido pelo polaco-americano Albert Bruce Sabin, chegou ao mercado, com maior eficácia e simplicidade no processo de vacinação, além de menor custo, a malquista “paralisia infantil” foi erradicada em quase todo o planeta. Apenas em alguns raros países, a doença se manteve. Não por falta das vacinas, pois que ambos os cientistas, num gesto humanitário de honra e desprendimento, abriram mão do direito às patentes que os tornaria bilionários, em favor de todas as crianças. 
Desinformação, conceitos abomináveis e desmazelo para com os filhotes de gente, estão fazendo o risco de volta da poliomielite ganhar proporções assustadoras. 
A vacina, para inúmeras patologias, é a única proteção eficaz. É a garantia de não infecção e preservação da integridade ameaçada por vírus.
As pessoas capazes de amar e labutar pelo direito à vida plena e produtiva, focam seus pensamentos no sentido oposto a ter que responder à pergunta inicial desse artigo com tristeza ou arrependimento:
– O meu é aquele com deficiência!

 

(*) Mário Ananias é monlevadense, servidor público, escritor, palestrante e autor do livro: Sobre Viver com Pólio. Contato: mariosrananias.com.br/ @mariosrananias

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