Desde 1984
Débora Guimarães
01 de Março de 2024
Toc-toc…quem é?

-    Toc-toc.
-    Quem é?
-    Combate a dengue.
-    Não posso te receber agora, volte outra hora.
-    Ok, eu tento de novo amanhã.
E, todo mês, em boa parte das casas por onde passa a turma do combate a dengue, o cenário é este. Ou ninguém atende, ou diz que não pode receber. 
Num cenário ideal, essas pessoas são recebidas e realizam seu trabalho. E o que é esperado delas? Conscientização. Observar seu terreno, mostrar potenciais mananciais para a proliferação do mosquito, tratar a água que pode se tornar um problema e tirar eventuais dúvidas. Já do cidadão é esperado, além de atender a porta, cuidar do próprio quintal, descartando tudo o que pode se tornar um 'resort' para o Aedes aegypti. E, sim, eles gostam desse conforto de férias à beira da piscina - na verdade, dentro dela. E se não for um 'resort', ficam felizes em qualquer piscininha. Qualquer mesmo! Por menor que pareça!
-       Toc-toc.
-    Quem é?
-    Sou eu, o vírus.
-    Qual vírus?
-    Da dengue.
-    Não tem ninguém aqui pra te receber.
-    Tem certeza?
-    Sim. Não tenho tempo para ficar doente, procure outro. 
E a vida segue.
-    Toc-toc.
-    Toc-toc. (Silêncio…todos dormem.)
-    Sou eu, a dengue. Olha, até bati, mas vi que a porta estava aberta e entrei. Enquanto você dormia, tomei meu café da manhã e estou indo embora. Vou almoçar em outro lugar.
Esse diálogo pode não ser real, mas é mais ou menos assim que acontece. O mosquito entra sem bater. Ele não faz cerimônia. E você não está exatamente dormindo, no sentido literal. Mas para ele, você “dorme” quando não mantém seu quintal limpo e sem focos e também quando não passa o repelente, já que nem sempre o problema é exatamente no seu quintal. 
O Aedes tem voo leve, não faz barulho, não emite alerta. E não se engane pensando que ele só voa baixinho e mira nas pernas. Se ele consegue alcançar caixas d’água, calhas e terraços, ele pode sim picar outras partes do seu corpo ou encontrar você no seu apartamento do segundo andar.
O mosquito é pequeno, mas de fácil identificação por causa da sua fantasia listradinha. Sai para trabalhar pela manhã e descansa após o almoço. Pode reaparecer no final do dia. Depende da freguesia. Na sua casa pode descansar nas paredes, móveis, dentro de armário, atrás de geladeiras, em roupas penduradas e até mosquiteiros. Macho e fêmea se acasalam, mas quem fica maluca para picar você é ela. Sabe porque? Ela precisa do seu sangue para colocar os ovos após o acasalamento.
Esses ovos são tão pequenos que é difícil a gente enxergar. São 100 a 150 por vez. É aqui que o seu quintal entra no jogo. Uma vez depositados, eles esperam por até um ano para se desenvolver. Quanta coisa você vive nesse tempo? Enquanto isso, ficam lá, aguardando a chuva ou qualquer outra fonte que faça o potinho encher e eles terem contato com a água para se desenvolver. Daí pra virar larva e crescer até termos mais mosquitos é um pulo. E se aquela mãe que te picou para botar estiver infectada, o mosquito já nasce um potencial transmissor. Ah, e não só da dengue, mas da zica ou chikungunya. Então, fique de olho. Limpe seu quintal! Abra a porta para os agentes de combate. E, nessa epidemia atual, não economize repelente. O mosquito não está para brincadeira!

 

(*) Débora Guimarães é jornalista e fotógrafa. Apaixonada por criar, guardar e compartilhar memórias, pois acredita que toda memória importa!.

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