Desde 1984
Elivânia Felícia Braz
22 de Dezembro de 2023
Estou tão cansada disso

No apagar das luzes do ano, quase Natal, recebo a notícia de que um homem, de 24 anos, foi preso no fim de semana suspeito de manter a companheira, de 25, em cárcere privado, no bairro Sion, em João Monlevade. Como se não bastasse a violência e agressões, a vítima foi encontrada em estado crítico de saúde, sem alimentação adequada e bebendo água da torneira. Confesso que estou tão cansada...
São anos de lutas, passeatas, conscientizações. Já escrevi um sem número de vezes neste espaço, já usei tribuna da Câmara, já palestrei em escolas, entidades e empresas. Sei que não podemos desanimar porque senão fica pior, mas caminhamos há tanto tempo e a evolução é quase zero. Parece que nada, absolutamente nada surte efeito.
É que a violência contra a mulher caiu no lugar comum. Levantamento da 12ª região da Polícia Civil, a qual Monlevade faz parte, aponta que ao menos duas mulheres são vítimas de violência diariamente no município. Entre janeiro e novembro, foram 681 ocorrências na cidade. É muita mulher sendo violentada, ameaçada, agredida, fisicamente e de todas as outras formas! Além disso, são muitos casos de abuso sexual, sobretudo, no transporte público. Até quando vamos viver reféns de um sistema machista, misógino e asqueroso? Até quando precisarei escrever e falar desses casos?
Provavelmente e, infelizmente, enquanto você lê esse artigo, uma mulher esteja passando por uma situação de violência ou de abuso. Reflita: e se fosse sua mãe ou sua filha? O Natal é tempo de paz, amor, solidariedade. Mas as mulheres têm tido isso? Dias atrás, vídeo do ex-policial militar Evandro Guedes, fundador de uma escola preparatória para concursos públicos, minimiza de forma jocosa a pena prevista para quem viola sexualmente corpo de mulheres mortas. Depois, de toda a repercussão do vídeo absurdo, ele disse que deu um exemplo em uma aula de direito penal... A mulher não tem paz nem depois que morre! 
A que ponto estamos chegando? Os abusos continuam, os casos de violência se repetem e o silêncio das autoridades apavora. No Brasil e aqui em Monlevade também. É preciso dar abrigo, acolhimento e seguranças às vítimas. Precisamos sim, de espaços adequados para as mulheres e seus filhos. Além de nova oportunidade de recomeçar suas vidas.
Já passou da hora dos poderes públicos desenvolverem campanhas permanentes, elaborarem e colocarem em prática ações mais efetivas e aderirem de forma firme e eficiente a essa causa: parem de matar e violentar as mulheres. Não basta falar que é contra, é preciso ser antiviolência. Em todos os aspectos.
Eu repito: estou cansada disso tudo, mas a luta é permanente. Precisamos de mais equidade, o que significa dar às pessoas o que elas precisam para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades.  E as mulheres, cientificamente comprovado, estão desfavoráveis.
Ainda assim, é preciso respirar e sonhar com dias melhores para todos e, principalmente, todas nós. Desejo um Feliz Natal e que em 2024, tenhamos um ano melhor, sem violência contra a mulher.

 

(*) Elivânia Felícia Braz é advogada e atual presidente da AMA – Associação Mulheres em Ação de João Monlevade 

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