Desde 1984
Breno Eustáquio da Silva
07 de Julho de 2023
Saudades de um “Tempo que Brilhava”

Lembro-me com saudade da minha infância no bairro Satélite, do tempo em que o céu noturno era uma pintura em movimento, exageradamente estrelado. As estrelas cintilavam em uma sinfonia de luzes, como se tentassem competir com a própria lua. A luz da lua, por sua vez, refletia no chão revelando as nuances do minério de ferro espalhado pelo caminho. Era um espetáculo para os olhos, um cenário que parecia saído de um conto de Carlos Drummond de Andrade.
As tardes de sábado traziam consigo um cheirinho reconfortante de cera e óleo de peroba. A casa arrumada exalava uma sensação de acolhimento, preparada com esmero para receber o descanso do fim de semana. Os móveis lustrosos reluziam sob a luz suave do sol poente, e tudo parecia em harmonia.
Ainda consigo sentir a brisa leve que trazia consigo o aroma fresco da horta imensa no quintal de casa plantada pelo meu pai. Cada canteiro era um universo de cores e sabores, onde alfaces, tomates e cenouras se entrelaçavam em perfeita simetria.
Os gritos alegres das crianças brincando na rua Fortaleza ainda ecoam em minha mente como uma melodia de felicidade. Ouvir as vozes cheias de energia enquanto corriam, pulavam e se divertiam me trazia uma sensação de liberdade. Naquele tempo, a inocência reinava e o mundo parecia um lugar mágico.
Lembro-me também da oração do Pai Nosso antes de entrarmos na sala de aula. O gesto simples, porém significativo, unia nossos corações e fortalecia nossos laços. Era um momento de serenidade antes de mergulharmos no mundo do conhecimento.
As celebrações na igreja nas noites de sábado eram momentos de encontro com a espiritualidade. O ambiente sagrado, preenchido por cânticos e palavras de fé, inspirava esperança e paz em meu coração. Era um tempo de conexão com algo maior.
As aventuras na trilha da biquinha eram como capítulos de uma história emocionante. O cheiro da mata, o som dos pássaros e o frescor do ar invadindo meus pulmões traziam uma sensação de liberdade e descoberta. Cada passo era uma nova emoção, uma chance de desvendar segredos escondidos.
Uma das lembranças mais doces é a de meus irmãos dividindo os deliciosos biscoitos fritos com chá mate que minha mãe preparava em dias de chuva. O calor da cozinha, a risada solta e o sabor reconfortante enchiam minha infância de alegria.
Recordo-me ainda dos sábados à tardinha, quando minha mãe comprava Marta Rocha com côco para comermos antes dos Simpsons. Era um momento de descontração, de dar boas risadas e aproveitar a companhia da família. Os domingos, por sua vez, eram sempre uma festa na casa dos meus avós. Esperava ansioso pelo Fusca verde ou pela Brasília vermelha do meu avô. 
Às vezes, bate uma nostalgia profunda. Sinto saudade daquele tempo em que tudo parecia simples e cheio de encanto. Como era feliz e não sabia! Mas guardo essas lembranças com carinho, porque elas me lembram quem eu fui, de onde vim e o quanto minha infância foi especial. E essas memórias são como pequenos tesouros que carrego comigo, trazendo um sorriso nostálgico e de esperança de que esses dias doces me esperam amanhã.

 

(*) Breno Eustáquio é professor universitário

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