Desde 1984
Elizeu Assis
14 de Abril de 2023
Calma violência, violência calma!

Por que o sintoma da violência se transformou numa “onda” que tomou conta das nossas escolas? Em nossa cultura a escola representa o “espaço privilegiado de inserção do sujeito na cultura e preparação para o mundo do trabalho”.
Qual é a razão de tanta violência? Soltemos nosso canto: “Calma violência, violência calma! Minha mão não tem mais palma. Dói a irreverência. Violência calma, brasileira é minha alma”. A partir desses versos do cantor e compositor cearense, Raimundo Fagner, percebe-se a necessidade urgente de se fazer uma reflexão sobre esse fenômeno que nos assusta. Seria essa uma “onda de irreverência”? Calma... É violência!
A psicanálise nos instrui que há algo para além do princípio do prazer e do conteúdo manifesto dos sonhos. Diante disso se faz necessário o trabalho da escuta. A tese inicial é de que “não se combate violência com mais violência”. Os espelhos, deixemo-los para a madrasta malvada da Branca de Neve. 
Nossos políticos têm como resposta única o exercício de “mais violência por sobre a violência” [recentemente a porta do quartel se encheu deles]. Na presença de qualquer manifestação que os remeta à própria imagem, logo correm para as delegacias, convocam o aparelho repressor do Estado e o instiga contra a população. Esses, se esquecem de que a polícia deve ser chamada para quem precisa – “Polícia para quem precisa de polícia”, já cantaram os Titãs.
Considere chamar a polícia para averiguar, como confidencia outra canção dos Titãs, o que se esconde: “Nos fundilhos dos Senhores Vereadores. Nas perucas dos senhores senadores...” E pra piorar, a violência aparece exatamente ali onde o Estado é omisso, aonde a escola não chega.
“Quem te governa não presta” e isso é a violência, é o produto da falta de respostas aos problemas sociais crônicos que há muito vivemos e não vemos solução. A violência é efeito da revolta daqueles que não foram assistidos em seus direitos básicos. A estes parece haver uma única solução: “Declare guerra a quem finge te amar. Chega de passar a mão na cabeça De quem te sacaneia. E pra te arrasar Só o inferno te aceita”.
Existe sim a sociopatia, o transtorno de personalidade antissocial, a incapacidade de entender os sentimentos dos outros. Há aqueles que quebram regras, que tomam decisões impulsivas e não sentem culpa ou remorso. Existe o adoecimento que produz como efeito a violência como sintoma. Mas existe também a violência do abandono, da recusa, da falta de emprego, de remédios, e muitos outras modalidades de omissões. 
Podemos concluir que essa onda de violência não será combatida com mais violência, que convocar o aparelho repressor do Estado e instigá-lo contra a população não resolve nem ameniza o problema. Talvez precisemos sim, chamar a polícia, mas “Polícia para quem precisa de polícia”.

 

(*) Elizeu Assis é doutor em História, mestre em Ciências, psicólogo e professor

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