Desde 1984
Joaquim Costa
21 de Outubro de 2022
Henri Gorceix: o espírito de uma universidade

Claude Henri Gorceix nasceu no outono de 1842, em Saint Deni-des-Murs, na França e no dia 19 de outubro comemora-se seus 180 anos. Na juventude, revelou-se um entusiasta do conhecimento, formando-se na Escola Normal Superior de Paris, onde foi aluno do notável cientista Louis Pasteur. Com ótima formação em matemática, física e química, Gorceix adquiriu, posteriormente, sólidos conhecimentos em geologia ao estudar vulcanismo em sua passagem pela Escola Francesa de Atenas. Aos 31 anos veio para o Brasil a convite do Imperador Dom Pedro II para fundar, em 12 de outubro de 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto, um marco do ensino acadêmico no Brasil. Nove anos depois, casou-se com a ouro-pretana Constança-Beatriz da Silva Guimarães com quem teve uma filha, Cécille Pierrete Théréze Gorceix.

O brasão da Escola de Minas resume bem a forma de ensinar do mineralogista francês que unia teoria e prática: “Cum mente et malleo” (com a mente e o martelo). A filosofia e as práticas pedagógicas implantadas em Ouro Preto podem ser resumidas no que até hoje é chamado de espírito de Gorceix, dissociado da tradição livresca e de memorização de textos predominantes no Brasil. Após 15 anos como diretor da Escola de Minas e com o advento da instalação da República, renunciou ao cargo e voltou à sua cidade natal, Bujaleuf, onde foi prefeito por três mandatos. Faleceu em 6 de setembro de 1919, aos 77 anos. Em reconhecimento à sua importância, teve seu corpo requisitado aos familiares e transladado para o Panteão Gorceix na Escola de Minas de Ouro Preto, em 1970. 

Em 1921 a ARBED adquiriu a Companhia Siderúrgica Mineira em Sabará, que pertencia a quatro engenheiros formados na Escola de Minas de Ouro Preto: Cristiano Guimarães, Gil Guatimosin, Ovídio de Andrade e Amaro Lanari. Ao longo dos 87 anos da ArcelorMittal Monlevade, conta-se mais de uma centena de engenheiros formados na Escola de Minas que aqui trabalharam ocupando cargos técnicos, gerenciais e estratégicos.

Em Ouro Preto, a Escola de Minas se juntou à também centenária Escola de Farmácia, criada em 1839, e deu origem à Universidade Federal de Ouro Preto, em 1969. O campus da UFOP em Monlevade foi inaugurado há cerca de 20 anos e trouxe para a cidade opções de cursos de uma escola reconhecida pela excelência.

 Alunos monlevadenses e de todo o Brasil frequentam os cursos de engenharia elétrica, engenharia de computação e sistema de informação, além da graduação e mestrado em engenharia de produção. É comum nos depararmos com ex-alunos da UFOP com carreira de sucesso, inclusive profissionais formados na UFOP de Monlevade. 

Esse sucesso traz consigo uma base que está associada ao espírito de Gorceix que, de acordo com o historiador José Murilo de Carvalho, pode ser resumido em ênfase no mérito pessoal, no trabalho duro, na criatividade, na pesquisa de campo e de laboratório e, finalmente, na preocupação com a aplicação prática da pesquisa em benefício do desenvolvimento econômico do país, sobretudo no que se refere à mineração e à siderurgia. Por isso, escrevi esse artigo, em homenagem à memória do grande pioneiro Gorceix, autor de um legado que inspira a universidade. 

 

(*) Joaquim Costa é gerente técnico da ArcelorMittal Monlevade e aluno egresso da UFOP

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