Desde 1984
Alexsandra Mara
07 de Outubro de 2022
Branquitude e luta antirracista

Em pleno 2022, eu tinha esperança de que o mal chamado racismo recreativo não existisse mais. Você sabe do que se trata? Se não, explico: ele refere-se às “piadas” e às “brincadeiras” que, aparentemente, são inofensivas, e/ou um meio rotineiro de interação social. Porém, essas possuem um cunho racial em que se associa as características, físicas e culturais, das pessoas negras ou indígenas como sendo algo inferior ou desagradável. 

Por isso, precisamos ainda falar de racismo. Aqui, segue meu apelo: não basta não ser racista, é preciso lutar contra as pessoas racistas. Piadinhas de péssimo gosto como “vou pintar a cara de preto para ter a oportunidade de um preto” me fazem refletir sobre o quanto ainda teremos que lutar para acabar com o racismo em nossa sociedade. 

Sei que alguns brancos vão pensar e falar: “isso é mimimi”... Ou ainda, “foi brincadeira”, “não tive a intenção de ofender”. Mas a questão é que justamente as pessoas que ofendem e são racistas “brincando”, são as que não ouvem esse apelo e não estudam sobre o tema.  

Caras pessoas brancas: se vocês não pararem de ser racistas, nós, pretos e pretas, não vamos poder descansar. Precisamos descansar, não aguentamos mais falar as mesmas coisas... Não! Vocês não têm o direito de fazer piadas sobre o que desencadeie a nossa dor e a dor dos nossos ancestrais. Sabe aquela palestra sobre pretos? É para vocês assistirem. E aquele evento sobre a cultura preta? É para vocês irem, conhecerem, colocarem-se no nosso lugar e, como pessoas antirracistas, levar o que aprenderam por onde passarem. Não é virando as costas para nós ou nos colocando como “vitimistas”, que o racismo irá acabar. 

Precisamos de vocês, brancos, para que um dia a gente não precise mais falar sobre racismo... É um apelo que faço do fundo do meu coração. Porque essa luta cansa. Cansa a mente, o corpo, a alma. Nós, pretos, temos tanta coisa para falar. Temos outros assuntos pra debater, nós somos múltiplos, nós temos a nossa cultura para ensinar e ainda sabemos tudo da cultura de vocês, brancos. Pessoas pretas podem ocupar qualquer lugar e falar de várias coisas. Mas não dá pra calar diante do mínimo de racismo. O negro continuará sendo oprimido enquanto as pessoas não se assumirem racistas e buscarem melhorar, livrar-se desse mal de uma vez por todas. 

A casa grande e a senzala continuam existindo. Só que agora, com uma tintura de “moderna”. O racismo foi sofrendo mutações e se aprimorando ao ponto de ter ganhado uma sutileza que faz com que, muitas vezes, só é detectado no detalhe. Detalhes percebidos para quem há pouquíssimo tempo começou a ter direito do básico. E não cabe mais espaço pra brincadeirinhas. 

É obrigação das pessoas brancas procurarem informações e respostas para saberem mais sobre o assunto. Sofri, como disse, racismo recreativo e quero acreditar que aquelas pessoas não fazem ideia do que seja isso. Porém, está na hora de, assim que detectarem, começarem a pesquisar e a espalhar que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Caras pessoas brancas: sejam antirracistas, façam um mundo melhor e ajudem no reparo do maior crime da história, a escravidão que durou 300 anos. Para você, branco, que já está nesta e noutras lutas conosco, o povo preto, a nossa gratidão. Ubuntu!

 

(*) Alexsandra Mara Felipe Fernandes é integrante da Associação Monlevadense de Afrodescendente 

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