Desde 1984
Adilson Simeão
05 de Agosto de 2022
Dilema das pesquisas eleitorais

Recentemente, vimos diferenças consideráveis entre duas pesquisas nacionais sobre a eleição para presidente da República do Brasil. Numa primeira pesquisa, realizada entre os dias 17 a 19 de julho, com três mil entrevistados pelo PoderData, registro BR- 07122/2022, a diferença entre Lula e Bolsonaro era de 6 pontos percentuais. Enquanto que, em outra pesquisa do DataFolha, realizada com 2.566 entrevistados, nos dias 27 e 28 de julho, registrada sob o número BR-01192/2022, a distância entre os dois principais candidatos foi de 18%, em prol de Lula. 

O que explica essa diferença? Os resultados encontrados estão bem acima da margem de erro de ambos os levantamentos, que gira em torno de 2%. O período de coleta foi próximo, apenas uma semana de diferença entre os estudos. A única explicação está no método de coleta. Enquanto uma foi feita pelo telefone, no modelo de gravação (sem interação humana), a outra foi feita no modelo tradicional, com entrevistas pessoais, face a face.

Portanto, o que justifica os números levando em conta apenas o método de coleta? Antes de responder, explico. Primeiro, pesquisa ao telefone, utilizando a Unidade de Resposta Audível (Ura). Essa é uma espécie de “robô” que liga para os entrevistados e pede que esses respondam uma pesquisa utilizando o próprio teclado do celular ou telefone. Agora, sobre a pesquisa tradicional. Essa é a que um entrevistador devidamente identificado aborda as pessoas, em pontos de fluxo ou no domicílio, pessoalmente, e aplica um questionário sobre as eleições.

A explicação vem de uma robusta experiência nossa com o DataMG na última campanha eleitoral para as eleições municipais, quando fizemos pesquisas para prefeito de Itabira em 2020. A disputa estava polarizada entre dois candidatos: Ronaldo Magalhães (PSDB), prefeito a época e Marco Antônio Lage (PSB), candidato de oposição. No primeiro levantamento que fizemos, utilizando a URA, verificamos que Ronaldo estava apenas 5% à frente do Marco Antônio. Isso em 5 de outubro daquele ano, pouco menos de um mês antes do pleito.  

Dez dias depois, o Vox Populi fez uma pesquisa nas ruas e verificou que a diferença era de 23%, para o então prefeito que buscava a reeleição. No mesmo fim de semana, repetimos a nossa pesquisa ao telefone e percebemos que o Marco Antônio, desta vez, estava à frente 3% acima do segundo colocado. Ficamos céticos: como isso poderia ser real? Um instituto de pesquisa renomado como o Vox Populi mostrando uma realidade e nós do DataMG outra? Fato é que estávamos certos e os resultados nas urnas naquele ano confirmaram a vitória de Marco Antônio com diferença idêntica que tínhamos calculado semanas antes.

Como isso foi possível? Vamos à explicação: percebo que, ultimamente, os eleitores nas ruas estão sendo poucos sinceros. Devido à polarização política em nosso país, entendo que muitos estão com receio de dar realmente sua opinião. O fato é que, quando um entrevistado responde pesquisas eleitorais nas ruas, sejam em pontos de fluxo ou domiciliares, este invariavelmente pode estar acompanhado por pessoas próximas. 

Assim, o contexto pode induzi-lo a responder aquilo que se queira ouvir, um sentimento de maioria, não propriamente a sua opinião em relação ao tema pesquisado. Já nas pesquisas ao telefone, no modelo de URA, o entrevistado não precisa propriamente dizer, pronunciar a sua opinião. Apenas digitá-la no teclado do aparelho. Ou seja, mesmo que haja alguém próximo quando atender à ligação, essa pessoa não poderá saber em quem o entrevistado “votou”.  

Outro fato é que, ao responder pelo telefone, na minha visão, a Ura simula as urnas, pois ao “votar”, você repete o mesmo gesto: não fala e sim digita um número em silêncio e em total sigilo. Mais um aspecto de influência nos resultados das pesquisas face a face são as abstenções. Na última eleição presidencial, o índice chegou a 20%. Ou seja, um em cada cinco eleitores não foram votar. Mesmo que uma eventual pesquisa nas ruas faça a pergunta se o eleitor vai votar ou não no dia da eleição (e o DataMG fez este estudo outras vezes), percebo que, com o receio de algum “julgamento”, o eleitor em grande escala diz que irá votar. Porém, nada o impede de não comparecer e justificar seu voto após o pleito eleitoral.

Enquanto nas pesquisas por Ura, pode-se diminuir a influência da abstenção, pois a primeira pergunta que se faz é se a pessoa quer ou não responder à pesquisa: “aperte 1 se sim e 2 se não”. Portanto, presume-se que, quem não queira responder, escolha a opção 2 e possa se abster no dia da votação. Já quem realmente quer participar da pesquisa, certamente, irá comparecer às sessões no dia da eleição.

Sendo assim, concluímos que as pesquisas telefônicas vieram para ficar e muitos analistas podem se surpreender com os resultados das próximas sondagens e das urnas neste ano de 2022. O DataMG é uma empresa que detêm a tecnologia para executar pesquisas via telefone. Em 2020, a empresa executou mais de dez pesquisas com sucesso em 8 municípios brasileiros. Estamos preparados para atender nossos clientes com a melhor solução e prever com extrema eficácia os resultados eleitorais deste ano.  


(*) Adilson Alves Simeão é empresário e proprietário do Instituto de Pesquisas DataMG 

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