Desde 1984
Alexsandra Mara Felipe Fernandes
29 de Julho de 2022
Mês das mulheres pretas

No dia 25 de julho, comemoramos o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Tereza de Benguela se tornou a rainha do quilombo, e através de sua liderança, resistiram à escravidão, por duas décadas, até 1770, quando parte da população foi assassinada e outra, aprisionada. A data é um marco na luta contra o racismo.

Nascer mulher não é fácil, mas é maravilhoso! Sei que nascer mulher, seja ela de qual etnia, condição sexual ou profissão, nos trazem grandes desafios. Mas experimenta nascer mulher e preta para você ver... Mulher preta sofre duas vezes, porque além de ter que lutar para provar que, na verdade, o 'sexo frágil ' é uma grande fortaleza, ela tem que provar que pode ser preta e capaz ao mesmo tempo. 

Se você é mulher e gorda, lgbtqia+, talvez sofra ou já sofreu algum preconceito, imagina, ser mulher gorda, lgbtqia+ e negra. Experimenta nascer mulher pobre e preta para você ver. Na época em que as mulheres descobriram sua força, exigiram seus direitos para que pudessem trabalhar, isto foi uma grande conquista. Porém, para a mulher preta isso nunca foi uma conquista e sim uma imposição, visto que a maioria de nós tínhamos que começar cedo nas roças, nas casas das patroas. 

Mulher preta professora? Não, mulher preta tinha era que limpar o chão da sala que a professora branca pisava. Mulher preta advogada? Não. Mulher preta tinha que visitar seus maridos nas prisões. A mulher preta foi taxada de preguiçosa, ainda hein... Porque só não tinha cargo bom porque não queria estudar: assim falavam as mesmas pessoas que, em uma entrevista de emprego, na hora de escolher entre uma preta formada e uma branca sem estudo, escolhiam a branca porque combinava mais com a empresa. E afinal, quem iria limpar o chão? Quem ia servir o cafezinho se as mulheres pretas assentassem na cadeira do escritório? 

Mulher preta não tinha uma maquiagem que fosse própria para ela. Simplesmente porque não existíamos. Vá às periferias e veja qual é o número de mulher preta por lá. Quantas de nós fomos sexualizadas apenas por nossa cor, que brilha como ouro. Não somos “a cor do pecado” não. Somos a cor da resistência. Ser preta é cansaço e orgulho. É dor e alegria, é fel e mel. É choro, solidão, mas também é sorriso largo e união. Ah ser mulher é bom, mas experimenta ser mulher e preta para ver o quanto é maravilhoso! A capacidade que temos é imensa. E não vamos deixar que ninguém destrua nossas futuras mulheres. Vamos ensiná-las desde cedo para não obedecerem a ninguém que as tratem com racismo, que digam que ela é menor ou que precisa pedir benção para ser grande. Benção mulher preta pede pra Deus, pra Oxalá, pros seus pais. E licença? A gente não precisa pedir mais. Com respeito e empatia, nós sabemos que nosso caminho é livre pra seguir e irmos aonde a gente quiser. Um salve a todas as mulheres pretas. Axé para quem é de axé e amém pra quem for de amém. Salve Teresa de Benguela.


(*) Alexsandra Mara Felipe Fernandes é integrante da Associação Monlevadense de Afrodescendente 

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