Desde 1984
Marcos Martino
09 de Abril de 2021
Velozes, Furiosos E Idiotas

Tem motoristas que são alucinados para ultrapassar. Aqueles carretões gigantes então...é muita tentação. Eles conhecem as regras e tudo. Mas têm uma perversão, uma rebeldia velada, gostam de afrontar. Ultrapassam mesmo correndo riscos e colocando em risco a vida dos outros. Costumam ultrapassar acima da velocidade permitida também, afinal, se tem um carrão caro que faz 250, jamais vão concordar em rodar a 100 kms por hora. 

Tem risco de multa? Tem, mas quase não tem fiscalização. Tem risco de acidente? Também, mas antes viver 10 anos a mil do que mil a dez. E se morrer, morreu! Morrer faz parte da vida. Velozes, furiosos e idiotas. Tem gente que realmente tá pouco se lixando se milhares estão morrendo de COVID. Se não tiver hospital pra todo mundo, se morrerem 500 mil ou dois milhões tanto faz. Morrer é a única coisa certa nessa vida. Se tiver de ser hoje ou no ano que vem, tanto faz. Se tiver de ser por acidente de carro na 381 ou afogado no seco, como dizem ser a morte pela COVID, não faz diferença. A morte pode ser alívio. Tem gente que se rebela contra tudo que considere ser 'coisa' do outro lado. Por isso detestam máscaras, pois acham que são símbolos de dominação, cabrestos impostos pelos inimigos. Há quem diga que as máscaras não cercam tudo, mas cercam 80% das gotículas. 

Dizem que o vírus passa pelos microfuros. Pior é levar no furico. Tem gente que acha que isolamento não funciona, mas cloroquina e ivermectina sim. Tem gente que chama a COVID de fraudemia e renega sua existência. Tem gente que elegeu a China como pátria de Satanás e todos os chineses como demônios raivosos. Para eles, o virus é a maior arma já inventada, mais que a bomba nuclear que colocou o mundo sob joelhos, uma invenção diabólica da biotecnologia chinesa.

 Tem gente que odeia tudo que é chinês, menos o Smartphone, o tênis, game e a panela elétrica. Tem gente que continua apostando no terraplanismo. Tem gente que continua acreditando em quem mente o tempo inteiro. Tem gente que acha que devemos parar de assistir ou ler jornais, que devemos nos abstrair para não sermos tão afetados pelas notícias negativas. Tem gente que gosta de armas, de adquirir e atirar, alvejar animais, se necessário, matar gente. Tem gente que gosta da natureza, de conhecer os cursos d’água, a vegetação e relevo, os animais, o céu. Tem gente que aproveita pra tentar encontrar algum ovni no oceano de estrelas. Tem gente que aproveita até pra fazer amor. 

Tem um rapaz aflito nesse momento, sentindo intensa falta de ar. A aflição é imensa. Mas apareceu uma enfermeira anjo e lhe colocou no oxigênio. Alívio absurdo, paraíso na terra. Ele vai se livrar. Mas sofrerá com os sintomas. Tem gente que é fiel até o fim. Mesmo na hora da morte, aflito, ofegante, não trai suas convicções. Tem gente da saúde trabalhando firmemente em suas sagradas profissões, colocando em risco suas vidas pra salvar tantas outras. Eterna gratidão. Tem gente trabalhando na logística, nos aviões, nos caminhões, carros, motos, barcos, nos postos de saúde, na política, verdadeiros soldados nessa guerra invisível. Tem muitas lições nessas lutas e lutos. Tem gente que vai dar sequencia ao legado. 

Tem gente de todos os credos rezando. Que Maomé, Cristo, Jeová, Shiva, Tupã nos iluminem e protejam. Tem gente que transfere culpas pra não pesar sobre os próprios ombros. Mas a culpa é de toda a humanidade. Por isso a expiação é coletiva. Mas se fizermos nossas partes como indivíduos, como cidadãos, venceremos o desafio, veremos o sol brilhar novamente e em breve, poderemos nos abraçar sem medo.


(*) Marcos Martino é compositor e ativista cultural

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