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Gustavo Domingues
01 de Abril de 2021
Ainda dá tempo de evitar o colapso

Em seu livro “Colapso, Como as Cidades Encontram o Fracasso ou Sucesso”, o autor Jeremy Daymon dedica boa parte da obra para mostrar como algumas cidades colapsaram num curto espaço de tempo. Através de estudos arqueológicos foi possível concluir que todas ruíram a partir do momento que deixaram de ser sustentáveis. Foi assim com os Maias, os Incas, os Vikings e toda a Ilha de Páscoa, esta última o caso mais interessante. Na construção daquelas estátuas gigantescas e cabeçudas, foi preciso uma quantidade absurda de troncos para rolar as pedras até o local onde foram esculpidas, e na rolagem o tronco da ponta sempre era esmagado e inutilizado. A derrubada de árvores gerou desequilíbrio em cascata: a floresta deixou de existir, apareceram pragas, recursos naturais ficaram escassos, nascentes secaram, enfim, um total desequilíbrio que culminou em fome e guerra entre as famílias, houve até relatos de canibalismo. A sociedade ruiu.

Por que esse exemplo? Para mostrar que uma economia verde e a sustentabilidade são os meios mais efetivos de preservar o mundo como conhecemos e torná-lo um lugar melhor pra viver. É garantir o futuro da nossa própria espécie. O grande Nicola Tesla acreditava nisso, além de pregar que a tecnologia melhora a vida das pessoas, ela pode ajudar na melhoria dos níveis sociais.

Trazendo essa discussão para o mundo corporativo, empresas se tornam mais competitivas sendo sustentáveis, pois, usando recursos naturais de forma mais responsável, elas garantem redução de custos e ajudam na preservação. Nossa economia precisa ser verde e não estamos discutindo sobre isso, é uma pauta deixada sempre para depois e que não tem muitos defensores e, os poucos que defendem, são muitas vezes tratados como chatos. Para desenhar e ficar mais claro, numa economia verde plena, temos: baixo carbono, eficiência no uso de recursos naturais e inclusão social. Precisa dizer mais?

Nessa discussão o papel do Estado é fundamental. Seja pelo exemplo, seja pelo incentivo. O Estado além de se tornar sustentável precisa criar meios de incentivo para a comunidade. Isenção fiscal, IPTU Verde, linhas de financiamento, comprar de quem investe de forma sustentável (a Lei 8.666 - Licitações - já prevê isso, mas é pouco aplicada), são iniciativas que podem ser aplicadas como forma de fortalecimento da nossa legislação e incentivo do uso de fontes renováveis de energia. 

E se o Estado não ajuda (desde que também não pode atrapalhe taxando), esse esforço pode começar em nossa casa já que grandes mudanças ocorrem de dentro para fora. A energia solar e o reaproveitamento de lixo orgânico e dejetos na produção de biogás e biofertilizante através de sistemas de biodigestores são excelentes exemplos e hoje possuem baixo custo se comparado com o passado. É possível investir algo em torno de R$12mil em cada uma dessas alternativas e ter um retorno excelente no decorrer da vida útil dos sistemas, ganho financeiro e ambiental. Hoje já é possível para uma família gerar seu próprio gás de cozinha, gerar sua própria energia elétrica e armazena-la em baterias para utilizar essa mesma energia para, além de alimentar a residência, recarregar veículos elétricos como carros e motos. Imagina o ganho do nosso planeta e qualidade de vida quando nossos governantes finalmente despertarem para isso e criarem formas efetivas de incentivo?

Repito: sustentabilidade diminui despesas. Pensar em economia verde e sustentabilidade é garantir a própria existência da sociedade que conhecemos. O tempo é cíclico, o comportamento humano é cíclico e quebrar essa roda é pensar cada vez mais na sobrevivência do nosso ecossistema. Ainda há tempo de evitarmos o colapso e deixar um planeta melhor para filhos melhores.


(*) Gustavo Domingues é Administrador Público e representante técnico na T8M Energias Renováveis

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