Desde 1984
Renata Cely Frias
26 de Março de 2021
Cultura do Cancelamento

Normalmente, eu uso este espaço para falar de assuntos jurídicos. Mas, desta vez, vou falar de um tema que pode até não ser atual, mas tem tomado relevância nos últimos tempos: o cancelamento. Mas o que é cultura do cancelamento? O termo surgiu na internet, quando por diferenças culturais ou posturas que divergem de uma linha de pensamento, as pessoas passam a ignorar, e começam a rechaçar outras em redes sociais.

O termo, fora das redes, e em nosso convívio, poderia muito bem ser traduzido por subjugação, perseguição, deixar alguém de lado, mesmo que essa pessoa seja próxima, um familiar ou amigo, por exemplo. Fato é que apesar do termo ter ganhado força em 2019, o cancelamento existe desde sempre. Eu mesmo já fui cancelada várias vezes, desde a minha infância. Só que, agora, com as redes sociais, isso tornou uma prática também virtual.

 Há mais de 10 anos eu não me interesso pelo BBB mas, diante de tantas polêmicas dessa edição atual acabei cedendo e venho acompanhando, pelas redes sociais e, eventualmente pela TV. Assisti com grande indignação ao cancelamento que fizeram com o Lucas Penteado e, agora, tentam fazer com a participante Juliete.

O que mais me chama atenção, em todos os casos, é a postura dos canceladores. Esse tipo de gente eu conheço de longe e posso identificá-los em vários contextos. Eles são sempre gentis e sorridentes, mas por trás, tramam para o cancelamento tornar-se real. Agindo de forma dissimulada, apunhalam pelas costas, mas mantém o sorriso no rosto. 

São pessoas que agem covardemente, omitindo informações, excluindo o outro aos poucos. Mas, às claras, eles fazem de tudo para manter aparência de amizade plena. E, se você, por ventura, ousa reclamar ou discordar deles, é você que é considerado pessoa difícil ou polêmica. Afinal, como pode reclamar de pessoas tão gentis?

Eles também têm o poder de fazer o cancelado ou a vítima acreditar que a culpa pelo cancelamento é dele próprio, no mais flagrante caso de “me perdoa por me traíres!' Os canceladores também nunca estão sozinhos. Eles quase sempre vêm acompanhados pelos omissos. Aqueles, “gente boa”, que até percebem que os canceladores não estão agindo corretamente mas, são incapazes de mover uma palha, porque não querem ter a sua tranquilidade ameaçada. Pilatos que lavam as mãos para não serem incomodados.

Voltando ao conceito da cultura do cancelamento, na internet, ela ocorre quando várias pessoas deixam de seguir o cancelado, xingando, humilhando e expondo-o pelo que fez ou falou e que os demais não concordam. Esse julgamento, normalmente, é injusto, pois não dá chance ao cancelado de se defender.  

No caso do BBB, muito espantou o público, o fato de algumas atitudes da cantora Carol Konká, na casa, não terem incomodado os demais participantes do reality. Às vezes, o cancelador pode não ter a dimensão dos danos que está causando no outro, mas tem consciência do que está fazendo, tanto que costuma aliviar de vez em quando para não ganhar o rótulo de abusador.

Eu já convivi tanto com esse tipo de gente que hoje, ao menor sinal de um cancelador, eu saio correndo. Fujo mesmo. Não posso concordar que uma pessoa seja excluída por qualquer que seja o motivo. Afinal, quem nunca errou, que atire a primeira pedra. Viva as diferenças e o respeito ao próximo sempre. E você, já foi cancelada (o)?


(*) Renata Cely Frias é advogada em João Monlevade e região e especialista em Direito Previdenciário. OAB/MG: 79846. [email protected]  

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