Desde 1984
Eduardo José Quaresma
23 de Outubro de 2020
Talentos das cidades criativas

O título nos chama a uma segunda reflexão. Se na semana passada, perguntamos por que Monlevade não se torna uma cidade criativa, hoje, o questionamento é sobre: qual vocação tem a cidade para chegar a esse status? Quais são os caminhos para essa transformação?

 Quando se fala em Cidades Criativas, o pensamento pode ser em eixos que se referem à tecnologia e talentos, para então começarmos a trabalhar com indicadores. Mas temos que pensar em vários contextos, pois não é fácil estabelecer índices e conjuntos de indicadores que sejam adequados às mais diferentes realidades das nossas cidades. Além da questão cultural, temos disparidades em desafios de desenvolvimento e momentos diferentes dentro desses desafios. O talento de alguém que traz inovações, que gera valor agregado e faz a diferença precisa de um ambiente criativo.

Para atrair e reter talentos, além dos parques tecnológicos, importante oferecer infraestrutura, linhas de financiamento, capacitação, ambiente de negócios. Deve existir uma preocupação indissociável com o ambiente no qual esses talentos vivem e devem ser provocados e instigados para a diversidade e assim perceberem e criarem possibilidades de acesso ao novo. Em muitos casos os parques tecnológicos não se concretizam por não interagirem com o ambiente urbano diversificado, para além do trabalho.

A Rede Criativa mundial abrange sete áreas: Artesanato e Artes Populares, Artes Midiáticas (Tecnologia), Filme (Cinema), Design, Gastronomia, Literatura e Música. Santos integra o grupo desde 2015, na categoria Cinema. As outras cidades representam os segmentos de gastronomia: Florianópolis, Belo Horizonte, Paraty e Belém, design: Brasília, Fortaleza e Curitiba, música: Salvador e artesanato e artes populares: João Pessoa. Ao todo são dez cidades criativas no Brasil. As cidades que integram a rede possuem características e identidades diversas, mas compartilham entre si o compromisso de colaborar, trocar boas práticas e conhecimento, além de buscar estabelecer parcerias e projetos para o alcance dos objetivos da rede. 

As cidades interessadas em tornar-se membro da rede, devem enviar uma inscrição ligada a uma das sete categorias criativas e demonstrar seu interesse e capacidade de contribuir para o alcance dos objetivos da rede. Para participar efetivamente, cada cidade deve presentar um plano de ação com projetos, iniciativas ou políticas ligadas aos objetivos da rede e que serão executadas nos quatro anos seguintes. Enfim, inovação, conexões e cultura são as três características que vejo como suficientemente diretoras, mas ao mesmo tempo não são camisas de força para terem que ser revistas o tempo todo. São conceitos maiores que se encaixam a modelos diferentes. São processuais, mais do que ligados a momentos ou a recortes específicos.

E a dificuldade da cidade de menor porte, de até 100 mil habitantes, situação de João Monlevade, é a de congregar pessoas que formem um ambiente revigorado. Um talento criativo possui a tendência de valorizar cada vez mais qualidade de vida, diferente dos que antigamente trabalhavam muito para comprar bens e economizar para então aposentar. Os talentos criativos curtem o que fazem. Eles não pensam desta forma, pois para eles é difícil separar o trabalho da vida pessoal. As cidades têm que se preparar para atender esses anseios.

No próximo texto vamos conversar sobre as cidades do Brasil que são criativas e instigar a discussão para que a nossa João Monlevade comece a pensar nesta direção. Não será fácil, mas vamos pelo menos abrir a discussão sobre o tema...


(*) Eduardo José Quaresma é engenheiro civil e professor

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