Desde 1984
Erivelton Braz
19 de Junho de 2020
Retrovisor e para-brisa

Há um conceito interessante sobre a forma de encarar a vida: Você olha para o retrovisor ou para o para-brisa? Se você olha para o retrovisor, você vê o passado e fica preso a ele. É uma visão, muitas vezes, de vitimismo e de lamentos. Sabe aquela pessoa que só sabe falar das oportunidades perdidas, lamenta sua origem pobre e as condições de vida? 

O olhar do retrovisor diz muito sobre a passividade. Diz mais do que a vida fez com a pessoa do que a pessoa fez com a vida. Diz ainda respeito sobre a forma de encarar o passado e de lidar com sua história pessoal. Sob o viés saudosista, fica a dor de quem tem sempre um estrepe inflamando o coração: Ah, como era bom aquele tempo. “Eu era feliz e ninguém estava morto”, como escreveu o poeta Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. 

Há muita dor no olhar do retrovisor. O passado vive, está no presente e não é fácil se desgrudar dele. Assim, fica difícil seguir em frente quando se olha apenas para trás. E esse tanto de recordação mata.

Já o olhar do para-brisa é voltado para o futuro. A pessoa sabe que o passado passou, deixou marcas, mas que elas ajudam a entender o futuro. Sabe aquela metáfora de construir um castelo com as pedras que lhe atiraram? Então. É isso. 

Caminhar para frente em busca de um horizonte é sonhar com o futuro. E o futuro deve ser primeiro imaginado, para depois, ser construído. Primeiro a gente pensa, sente e depois age. O olhar de futuro é bem mais ativo e tem muito do protagonismo. O que você quer para a sua vida daqui a dez anos? E daqui a cinco? E no ano que vem? O que fará em dezembro? 

Isso, claro, sem ansiedade. É um exercício de vislumbrar, de sonhar e acreditar ser possível. Não se trata de ficar preso ao que se espera… Por que o excesso de futuro causa sofrimentos na alma. Assim como o excesso de passado. Como tudo na vida, o equilíbrio é necessário e prudente.

Mas se “quem tem um sonho não dança”, como cantou Cazuza, vale a pena acreditar neles e seguir em busca de sua realização. Do contrário, nos tornamos Carolina, aquela do Chico Buarque: o tempo passa na janela e ela não vê. A vida passa diante dos olhos e, num piscar, ela se acaba. Vamos viver!  

Em tempos de coronavírus, quando cada dia que se passa parece uma despedida, nunca a fé foi tão necessária. E a vida nunca tem fim para quem tem fé e acredita no amanhã. Sempre podemos escolher: temos a vida de retrovisor ou a vida de para-brisa? Estamos presos a um passado que nos oprime ou um futuro que liberta? A vida é o resultado de nossas escolhas e essas nos trazem a vida que é possível, não a ideal. Mas sonhar não custa nada. Ou quase nada. E viver, sempre vale a pena. 


(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação

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