Desde 1984
Gabriela Gomes
12 de Junho de 2020
Maternidade Real

A maternidade é uma fase desafiadora para todas as mulheres, independente do momento da vida de cada uma. Seja para aquela mãe que se preparou, planejou tudo nos mínimos detalhes, seja para a que foi surpreendida com uma maternidade solo, seja para a mãe jovem ou a mais experiente, a casada ou a solteira. Os desafios são parecidos, e se diferem em como são vivenciados por elas.

A quarentena potencializou o desafio da criação dos filhos, principalmente para as mães. Em tempo integral, agora elas também são professoras, monitoras, recreadoras, donas de casa, e muitas ainda acumulam a função do trabalho externo, presencial ou on line. Os filhos estão tão perdidos quanto as mães. Nunca viveram essa situação. Sentem falta dos amigos, dos parentes, das brincadeiras na pracinha, das professoras, das festinhas da escola. Sentem falta da liberdade de viver. Todos sentem falta do que tinham todos os dias. 

As mães da quarentena, após os meses iniciais, ainda buscam um norte para amenizar as dores e as delícias da situação. As roupas se multiplicam no cesto, a louça parece que não tem fim, a fome dos pequenos é cada vez mais insaciável e as horas das aulas on line são o ponto alto do furacão.

Os sentimentos estão fora do eixo, misto de ansiedade e otimismo, medos e angustias, sufoco e perplexidade. Tudo bem não dar conta de tudo. Tudo bem não ser a mãe dos seus sonhos. Tudo bem se às vezes as coisas saírem do planejado.

A pandemia mostrou ao mundo que os planos mudam, que a vida para, e que não há o que fazer para mudar isso, além de esperar. As regras podem virar exceções, a rotina pode vestir pijama o dia todo, o cardápio 100% saudável pode permitir um brigadeiro de colher. 

Não há perfeição no inusitado, na intensidade que tem sido a maternidade real na quarentena. Não há mágica, nem receita. Cada mãe conhece os seus limites, seja para monitorar as aulas, seja para estabelecer o tempo no celular, ou no horário para dormir.

Cada filho tem o seu tempo e sua adaptação. Alguns lidam melhor e outros entram em crises todos os dias. Tudo bem, é novo para eles também. Eles precisam de acolhimento, de carinho e de ajuda, para sobreviverem a essa situação e tirarem dela o melhor possível.

A maternidade real é dura, é latente. Usa calças de moletom e chinelos. O cabelo quase sempre está com coque e as blusas cheiram a amaciante. A maternidade real é aquela que se doa, cada qual do seu jeito, e faz o melhor que pode ou suporta. 

Ela é viva, regida pelo amor e pela doação, de tempo, de alma e de vida.

O único objetivo das mães nessa quarentena é sobreviver. O resto é lucro. 


(*) Gabriela Gomes é publicitária 

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