Desde 1984
Wagner Diló
08 de Maio de 2020
Na marcha inexorável do tempo

Depois dos sessenta tudo vira recordação. Era 1º de maio de 1960, uma tarde de sol no Estádio do Jacuí, em João Monlevade. Trabalhadores, metalúrgicos, operários e seus familiares, se acotovelavam preenchendo as arquibancadas superlotadas daquele simples estádio. Desta vez não para assistirem à uma grande partida de futebol, mas para, unidos num ato de confraternização, de alegria e gratidão, celebrarem o Dia do Trabalhador.

Naquela memorável tarde, o gramado verde, palco de muitos clássicos de futebol, de disputas acirradas e apaixonadas entre Metalúrgico x Belgominas, Minas x Real, Comercial x Prateano, atrações esportivas de todas as tardes de domingo, cedia lugar a uma comemoração cívica.

De repente, jovens garbosos, rigorosamente alinhados, sob o comando de um jovem professor de educação física, recém-formado na UFMG, adentram ao estádio, perfilados, trazendo, nas mãos, pesadas argolas de ferro, fruto do trabalho árduo de trabalhadores, nos laminadores da Belgo Mineira.

Ao som de Tchaikovsky, os jovens, estrategicamente posicionados, formaram, com seus corpos, pela primeira vez no Brasil, a bandeira brasileira e iniciaram, naquele momento, um balé. Nos gestos, rigorosamente, harmônicos, nascia a Ginástica Balanceada criada pelo jovem professor.

A música pomposa invade o estádio naquele momento emocionante e, de olhos arregalados, a plateia se surpreende diante do espetáculo cívico de homenagem à Bandeira Nacional. Tocadas no seu íntimo e emocionadas, famílias inteiras assistem, em silêncio, a um espetáculo jamais visto. Uma demonstração de amor à pátria, de respeito e de homenagem à Bandeira Nacional. Ainda tocados pela beleza da apresentação, a plateia aplaudia e soaram gritos de bravo, bravo! 

Nascia naquele momento uma obra de arte cívica viva, que se repetiria em grandes estádios de futebol do Brasil, como voltou a ser apresentada no Maracanã lotado, em 1970 e depois no Estádio do Mineirão e em muitos outros palcos onde a semente fértil do Professor Maurício, semeada naquela tarde no verde campo do Estádio Jacuí, nos corações daqueles trabalhadores brasileiros, homenageando o Dia do Trabalhador, germinara...

Esses trabalhadores eram homens fortes, de mãos calejadas, que arrancavam das montanhas ferríferas das Minas Gerais, as brutas pedras, que fundidas com fogo e suor, num árduo trabalho. Desde aquele 1º de maio de 1960 até hoje, em nossas mentes e corações saudosos, balançam as argolas de ferro, orgulhosamente empunhadas naquela tarde, já distante sessenta anos do dia de hoje. 

Obrigado Professor Maurício Guimarães, nosso querido Pará, por nos ensinar o amor à pátria e o respeito à nossa gloriosa Bandeira Nacional, hoje manchada, machucada, ferida, desrespeitada por homens rudes e por uma pandemia que haverá de purificá-la, infelizmente, com muitas vidas de nosso glorioso povo brasileiro. Tenha a certeza de que a semente que o senhor lançou ainda está viva e forte em nossas mentes e corações saudosos daqueles anos dourados. 



(*) Wagner Diló é fotografo monlevadense

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