Gustavo Domingues
20 de Março de 2020A prece do cotidiano
No horário combinado chego para a visita técnica na empresa. Na hora de rodar a instalação, o proprietário designou um senhor para me acompanhar. Moço simples e com sorriso constante. Uma espécie de capataz, um grande faz tudo daqueles que se confunde com a história da empresa, que é familiar.
Enquanto o chefe transmite as instruções ao empregado, me surpreendo com outro senhor (que descobri ser o pai do chefe, o fundador da empresa) me entregando um cafezinho, sem dizer nada, simplesmente com um olhar que entendo dizer: “Trouxe pra você, aceita que está gostoso”. E estava mesmo, fez lembrar o que meu pai fazia em sua cafeteira no bar, daquelas grandonas de inox, de padaria. Se você ainda não experimentou...
Começa a inspeção. Desço as escadas tomando café, equilibrando pra não sujar a roupa e seguindo o moço que foi designado para me acompanhar.
- A gente fica sem graça com esse negócio de não poder apertar a mão, né meu filho? Disse o senhor.
- É estranho mesmo. Confesso que ando tendo dificuldade em acostumar. Respondi.
- Parece falta de educação, né? Mas a gente tem que prevenir, né? Desse tal de corona. Mas a gente tenta compensar na conversa.
- Verdade. Conversar é sempre bom.
Seguimos...
Fim da visita, despedi e o senhor falou enquanto eu atravessava a rua:
- Vai dar tudo certo! Você vai ver.
Uma frase dessa, ou até mesmo um cafezinho inesperado, tem um peso enorme em tempos assim, com muita apreensão, incertezas, ansiedade e falta de apertos de mãos e abraços. É uma verdadeira prece. Vai dar tudo certo!
(*) Gustavo Domingues é representante técnico e não nega uma conversa