Desde 1984
Erivelton Braz
13 de Dezembro de 2019
50 anos hoje
Em dezembro de 1969, o artista plástico e professor em João Monlevade, Gerhart Michalick, pintou um dos quadros mais emblemáticos de sua coleção: a obra “Quem Enforcaria?”. A tela traz uma ousada bailarina dançando sutilmente na corda de uma forca, observada por um carrasco azul. A metáfora é uma alusão ao então presidente Garrastazu Médici, que publicou o Ato Institucional AI-5, um dos mais rigorosos decretos da ditadura militar.
Apesar do cenário sombrio,a tela traz ainda um facho de luz no horizonte. Um protesto de esperança para os anos de chumbo vividos no Brasil. O mestre Michalick, que sempre retratava a natureza da região, seja das lagoas, fauna e flora do Médio Piracicaba, entregou seus pincéis ao cenário político da época: perseguição e exílio de artistas, morte e tortura de intelectuais e censura. A obra é silencioso grito de alerta contra tudo isso, mostrando que arte supera qualquer escuridão.
Cinquenta anos depois, o quadro está atual e não é mais uma fotografia na parede. O país voltou a ser governado com um extremo conservadorismo e por quem rechaça a arte que não lhes convém. Tempos de censura ao cinema nacional, tempos de críticas pesadas a intelectuais que divergem dos governistas, tempos de perseguição a quem pensa diferente.
Hoje, em Monlevade, artistas se esforçam para manter vivos os fachos de esperança, como no quadro de Michalick. A cidade tem escritores, poetas, cantores, músicos, artistas plásticos, entre outros ativistas que fazem a diferença no cenário local. Eles que poderiam se unir, conversar mais e, claro, receber mais apoio para ações permanentes de arte e de cultura em Monlevade. Quem sabe em 2020 com a luz da esperança de um novo ano.
() Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação
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