Desde 1984
Márcio Passos
18 de Outubro de 2019
Políticos inábeis e a imprensa
Em 1969 eu tinha 18 anos de idade e estreei no jornalismo entrevistando, pela primeira vez, um prefeito de João Monlevade. Era Germin Loureiro (Bio), que encontrei sentado na escada de três degraus de sua casa, chorando diante da catástrofe causada na noite anterior por uma das maiores enchentes da história, provocada pelas chuvas no centro de Carneirinhos. No ano seguinte assumiu Antônio Gonçalves (Pirraça), seguido pelo médico Lúcio Flávio de Souza Mesquita e com Pirraça voltando para mais um mandato, que passou o governo para Bio, que entregou para Leonardo Diniz Dias. Na sequência Bio voltou para cumprir seu terceiro e último mandato, o médico Laércio Ribeiro veio em seguida para, depois, passar a Prefeitura para Carlos Moreira que governou dois mandatos seguidos até ser sucedido por Gustavo Prandini, Teófilo Torres e, agora, Simone Carvalho. São nove prefeitos em 13 mandatos, passando pelo MDB, PMDB, Arena, PT, PTB, PV e PSDB. Convivi com todos o tempo todo, à exceção de Prandini por meio mandato.
Conheço bem os modos operantes da política e não é pra menos. Sei quem é bem-intencionado, quem é enganador, quem tem capacidade de gestão e quem aposta tudo no populismo irresponsável. Quem é do mal, perseguidor, manipulador e manipulável, como também quem é correto, franco, respeitador e que não se deixa levar pela ilusão do poder eventual. Paguei e ainda pago caro nesta convivência de eterno confronto, vezes pela intolerância ou imaturidade de quem chegou ao comando político, como também em casos por erros que certamente cometemos.
No entanto, uma lição que aprendi e o tempo confirma e reafirma é que os agentes políticos, tanto do Executivo quanto do Legislativo, em sua maioria são inábeis na relação com a imprensa, censores em sua mais vil forma e autoritários em todas as reações. Ao longo de todo este tempo eles creditaram a si próprios as notícias positivas sobre seus governos, enquanto sempre apontaram todos os dedos contra os profissionais da imprensa quando o que era divulgado não lhes agradavam, mesmo sendo a verdade ou, pelo menos, a pura realidade.
Não seria desonesto a ponto de generalizar, mas me permito ao direito de não citar nomes de um lado nem de outro, mesmo porque a intenção não é esta. E nem é um lamento. Com toda a transformação provocada pelo avanço tecnológico e pela comunicação virtual, mesmo assim a imprensa vai continuar tendo importante papel na democracia desde que ela se alie cada vez menos aos governantes de plantão e cada vez mais ao cidadão. É que a vida nos ensinou que o que o político quer esconder cabe à imprensa descobrir.
Quanto aos agentes políticos que estão por vir nossa torcida é para que o povo aprenda cada vez mais discernir estelionatários eleitorais de gestores com capacidade de falar menos e ouvir mais, promover uma reforma que diminua o custo da máquina administrativa, acabar com apadrinhados que roubam o dinheiro público e priorizar gastos para que sobrem recursos para investimentos que o povo há tanto espera. Quanto a profissionais de imprensa como eu os políticos podem comemorar porque estamos adiando um pouco mais, mas a aposentadoria é certa e nossa repescagem não passa de mais um ano.

() Márcio Passos é jornalista e fundador do A Notícia
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