Desde 1984
Marcos Martino
13 de Setembro de 2019
Por que a maioria dos políticos odeia os intelectuais?
Se eu fosse político, a primeira coisa que iria fazer é me cercar de notáveis. Iria governar com os intelectuais, com os visionários, com os professores e artistas. Mas nossos políticos preferem se aconselhar com os puxa-sacos que só dizem amém e se dedicam a elogiar o ego dos nossos “odoricos”. Talvez Juscelino Kubitschek tenha sido um dos poucos que se cercou de notáveis, seja da literatura, da música ou da arquitetura.
FHC foi outro fora da curva. Mas por ser esse um dos seus principais atributos e pela sanha oposicionista em destruir reputações, intelectual virou xingamento, sinônimo de pedante, arrogante e inapto para coisas práticas. Tornou-se convenção o elogio à ignorância como valor essencial. Lula tornou-se um paradigma. Para que estudar, para que intelectualidade se um torneiro mecânico com pouquíssima instrução pode chegar ao poder?
Os petistas também não morrem de amores pelos intelectuais. A não ser por aqueles que se dedicam a defender o ideário, como Giberto Freyre, Frei Beto e Leonardo Boff. Mas intelectualidade com lado? Intelectualidade míope? A história se repete com Bolsonaro. Ele é um brasileiro de baixa intelectualidade, um ex-militar que abraçou a bandeira do conservadorismo e que chegou ao poder por que o povo queria se ver livre do PT, cujo governo já estava desgastado e sem rumo e por que o povo desejava botar um freio na delinquência e na baixa moralidade vigentes.
Mas o governo Bolsonaro também parece não gostar muito dos intelectuais. A não ser do guru, Olavo de Carvalho com suas excentricidades e teorias retrógradas. O governo Bolsonaro infelizmente também sofre de miopia e acha que todos os intelectuais são libertinos e comunistas. E também acha que os artistas são inimigos esquerdistas que dependem da Lei Rouanet. Alguém precisava avisar pra ele que nem todos os artistas são esquerdistas.
Em nível estadual também temos hoje um governo que tenta ser pragmático e botar a casa em ordem. E onde existe pragmatismo não tem lugar pros intelectuais, esses chatões que pensam demais, ousam questionar os "companheiros" e propõem pautas inconvenientes, que não interessam à política eleitoral.
E quando trazemos essa reflexão para realidade das nossas cidades a situação fica ainda pior. Assuntos como literatura, teatro, arte, filosofia, cultura e patrimônio histórico provocam bocejos. Nossos governantes pisam sobre a história sem culpa, nada fazem para a fruição da produção artístico cultural e acreditam piamente que estão certos, que a única coisa que importa é asfalto, concreto e mata-burro (onde correm o risco de cometer suicídio). Qual é o prefeito da região que abre espaço, dialoga, ouve e se cerca dos intelectuais locais? As mentes pensantes têm espaço nos governos das prefeituras do Médio Piracicaba? Há pouco tempo um assessor de prefeito me disse o seguinte: "Martino, eu acho legal a sua luta, mas cultura não dá voto e não enche barriga. O povo quer é festa. O povo não quer cultura".

()Marco Martino é compositor e ativista cultural
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