Desde 1984
Erivelton Braz
02 de Agosto de 2019
Memória engavetada
Enquanto cada dia se passa, o prédio da Escola Santana Estadual Santana, fechada em 2016, vai se deteriorando mais e mais. Mas, além da dor do patrimônio físico que se perde, há centenas de documentos, entre vídeos, fotos e transcrições de entrevistas com personalidades engavetados nos arquivos da Associação Comercial, Industrial e de Prestação de Serviços (Acimon). Eles são frutos de um ótimo projeto de valorização e resgate da memória municipal, realizado no início dos anos 2000. No entanto, faltaram ações para expor esse material que muito explica e contribui para a nossa história. Felizmente, os arquivos resistem e só falta a eles, o destino final, que é um local adequado para pesquisas e exposições.
Não é a primeira vez que escrevo sobre isso. Mas Monlevade pode, precisa e merece ter um Museu da Imagem e Som, com os registros de sua história, iniciada há quase 200 anos com a chegada de Jean de Monlevade a essas terras. Além do material já reunido pela Acimon, há muito ainda a ser produzido porque a história é feita todos os dias.
E, se a burocracia, ou mesmo a má vontade e incapacidade política travarem a liberação da Escola Santana, quantos outros imóveis poderiam abrigar esse projeto? Por que não ousar e levá-lo para a própria área da ArcelorMittal, no Solar ou área anexa, onde já existe o Museu do Ferro e do Aço? Por que não ampliar a visão e unir esforços das iniciativas privadas, pública, entidades culturais, escolas e universidades?
Isso é muito pouco diante do que essa cidade já teve. O que precisamos, repito, é resgatar o espírito empreendedor, livre e visionário de Jean de Monlevade, um francês que edificou aqui, no meio do nada, a maior e melhor fábrica de ferro do Século XIX, com maquinário importado da Inglaterra. Só isso já seria suficientemente grande para se tornar motivo de orgulho dos monlevadenses. Mas como orgulhar-se daquilo que não se conhece e que não é propagado? Como valorizar a nossa cidade, sem saber da nossa própria história? Como progredir e pensar no futuro, sem conhecer o passado e, principalmente, sem entendê-lo?
O momento é agora. A opinião pública tem repercutido e gostado da ideia, o Conselho Permanente de Desenvolvimento Econômico (CP10) também debate o assunto que, certamente, é de interesse de outros segmentos, como a Fundação Casa de Cultura. É preciso ampliar, enriquecer o debate e buscar meios de viabilizar um espaço para um museu em João Monlevade e formas de mantê-lo em funcionamento. Materiais e riqueza de história é que não faltam.

() Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação
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