Desde 1984
Rodrigo Andrade
05 de Julho de 2019
Queria ser um fanático
Dias desses, atolado em um mundaréu de notícias pitorescas do cenário político brasileiro, comecei a pensar em como minha tudo seria menos desgastante se eu fosse um fanático. Imagina só, não ter que ficar com raiva ou desanimado a cada presepada do meu digníssimo representante? Achar que tudo que meu queridinho faz é bom e que o resto é intriga de quem está do outro lado. Não ter que questionar nada. Que maravilha
Falar que o Brasil se tornou um país polarizado é chover no molhado. As últimas eleições escancararam um país extremamente dividido. E se antes o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dominava sozinho a arte de atrair para si legiões que transpiram fanatismo, agora tem a companhia de Jair Bolsonaro, político alçado à principal cadeira do país sobretudo graças a seus fãs que o veneram por tudo que ele diz ou faz.
Por mais que Lula e Bolsonaro se alimentem justamente do ódio que um estimula sobre o outros, os dois, na verdade, são lados de uma mesma moeda. Note os discursos dos fanáticos e como os elementos se repetem: ataques à imprensa, judiciário corrompido, perseguição da oposição, intolerância com divergência, absoluta certeza de que aquele político é o salvador da pátria. A maior diferença entre lulistas e bolsonaristas é o número que digitam nas urnas.
É muito mais fácil ser um fanático. Deve ser muito bom resolver todos os dilemas fazendo arminha com a mão e gritando “mito” ou fazendo “elizinho” e conclamando “Lula livre”. Viver em um mundo em que tudo estás nas mãos de um mártir da república e que a nossa única missão é dar sustentação a todo e qualquer ato. Ignorar as declarações vexatórias, as escolhas absurdas, as acusações de corrupção.
Mas, não O bobão aqui escolheu ser cricri. Cunharam até um termo para meus semelhantes: isentões. Pois, é. Neste Festival de Parintins que se tornou o Brasil, não ter um lado se transformou em uma afronta. Como assim, achar o Bolsonaro um louco sem ser lulista? Acreditar que o Lula se corrompeu? Bolsominion
Eu não quero ser Garantido e nem Caprichoso. Quero continuar aqui no meu muro, em paz, de onde tento observar alguns movimentos que me dão esperança de que um dia o Brasil será impulsionado por projetos de ideias convergentes, independentes dos endeusamentos ideológicos. Eles já acontecem, mas precisam vencer a queda de braço contra o fanatismo. Não será fácil.
Ser fanático tornaria tudo mais tranquilo. Mas eu prefiro ser chato de outro jeito

() Rodrigo Andrade é jornalista e editor do site defatoonline
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