Desde 1984
Erivelton Braz
21 de Junho de 2019
Um museu para Monlevade
João Monlevade é uma cidade jovem, com apenas 54 anos de emancipação político administrativa. Mas se pensarmos no início do povoamento dessas terras, voltamos ao século XIX, com a chegado francês precursor de tudo o que temos hoje, Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade.
Temos muitas histórias ainda pouco conhecidas dos primórdios desta cidade. E é claro, que além da coragem e visão de mundo arrojada do francês, que chegou para estudar minerais e edificou uma das mais importantes fábricas de ferro do Brasil, essa história se acabaria com sua morte em 1872. Não nos tornamos apenas uma cidadezinha de interior, com ruínas do que fora um imponente Solar e vestígios de unidade fabril, graças ao empenho do engenheiro luxemburguês, Gaston Barbanson. Quem conta essa história é Antônio José Polanczyk, em seu ótimo livro: “Louis Ensch e a Belgo Mineira”.
Segundo o ex-diretor da usina de Monlevade, foi o Barbanson quem convenceu os diretores da poderosa Arbed a implantarem uma grande usina “nas terras de Monlevade”. A partir dessa importante decisão, a cidade se desenvolveu em torno da Usina. Isso, muito se deve ao compromisso social e desejo de progresso, trazido pelo também engenheiro nascido em Luxemburgo, Louis Ensch. Foi a partir dele, que veio avaliar as condições de produção das usinas de João Monlevade e Sabará, porém, mais com o propósito de encerrar a primeira, que ele percebeu que seria possível reverter prejuízos e impulsionar o crescimento, não só da planta metalúrgica, mas da cidade como um todo.
O resto é mais recente e muita gente conhece. Foram construídas vilas operárias, colégios, escolas, clubes, hospital. Vieram imigrantes da Europa, mas também do Brasil, de Minas Gerais e dos arredores, em busca de prosperidade, formando a gênese monlevadense. As terras do velho Monlevade deixaram de ser um arraial e para se desenvolver como cidade.
Estamos em 2019 e muito pouco dessa história é divulgada. Está em poucos livros, não há filmes, os documentos estão sob guarda da Usina, hoje, a multinacional ArcelorMittal, que, paradoxalmente, tudo e nada tem a ver com a história acima. Por isso, é preciso unir esforços dos poderes públicos e privados na elaboração de um grande projeto de preservação dessa memória. Por que não temos um Museu da Imagem e do Som (MIS), com a disponibilidade desta história, mostra de arquivos de imagens e sons, além de exposições permanentes de artistas locais e convidados, atraindo visitantes e fomentando nossa identidade?
A ideia de um MIS vai além de um frustrado “Museu do Aço”, no meio do Areão e que, pela sua desimportância,será adaprtado em canil municipal. Trata-se de um projeto arrojado, feito em parceria com as lideranças locais e, de preferência, com a mínima intervenção política. É preciso algo maior, para dar conta de nossa memória coletiva e devolver a Monlevade, o espírito empreendedor, de visão e de transformação social que balizaram os frutos dos trabalhos de nossos precursores.

() Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação
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